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domingo, 31 de agosto de 2014

Páginas 06 e 07 - Kleber Galveas e a história da reserva de Jacarenema




Foi numa manhã de domingo que conhecemos Kleber Galvêas em sua residência na Barra do Jucu. Das explanações sobre as pinturas e rabiscos de Homero Massena pela casa e o convite para acompanhar mais um capítulo da saga “A Vale, a Vaca e a Pena” que iria ocorrer meses depois, percebi em Kleber muito mais do que um contador de histórias, mas um intelectual preocupado com o meio em que vive e com os rumos que a gestão pública dava ao meio ambiente na cidade. 

Todas essas histórias foram ouvidas enquanto saboreava um delicioso sorvete de araçaúna.
Semanas depois, armado com minhas ferramentas de trabalho, gravador, máquina fotográfica e um bloco de anotações, fui até a Barra do Jucu, para entrevistar Kleber.

A casa pequena, antiga e acolhedora é uma das raras casas de antigos pescadores que ainda sobrevive e se mantém em pé, graças ao cuidado de seu proprietário que a preserva com todo cuidado, pois ali dentro há algo muito valioso, pinturas e rabiscos na parede de seu mestre, Homero Massena.
Sentado na sala, Kleber expõe a história da reserva natural que é sem sombra de dúvidas um dos grandes parques ambientais de Vila Velha, a Reserva de Jacaranema.

- Um dia eu perguntei para as crianças onde elas iam pescar e elas me respondiam, ‘nhanhanema’ (forma fonética como Kleber entendeu o que as crianças disseram). Como não entendi, repeti a pergunta e o meu entendimento foi o mesmo, então pedi a minha mulher que me ajudasse a entender para onde as crianças iam pescar, e ela então entendeu algo como, jacaranema. Dessa forma, procurei um professor que dominasse a língua tupi e este me disse que seria algo como ‘jacare+nema’ ou seja, jacaré catingoso. Isso certamente poderia ser o lugar onde um jacaré havia morrido e seus restos mortais estavam exalando um odor muito forte, explicou Kleber.
Essa conceituação fonética foi exposta com o intuito de compreendermos o significado e a simbologia dos lugares existentes em nossa cidade.
Para compreender a história dessa reserva Kleber relata que toda esta área fazia parte da mata do Juçará, que era integrante da Mata Atlântica “possuía árvores grandiosas e animais de várias espécies”. Essa mata estava localizada em um conjunto de ilhas entre as águas do Rio do Congo, que vem da Ponta da Fruta e de um pequeno afluente que vem do oeste, o Rio da Mata, ali ambos se encontraram indo desaguar na foz do rio Jucu.
Posteriormente a construção da Rodovia do Sol e a especulação imobiliária a área foi loteada, mas manteve-se o verde. No início dos anos 80, as árvores monumentais foram abatidas e vendidas para fornos de padarias. Depois atearam fogo no que restou.
- Um dia, quando andava de bicicleta pela Rodovia do Sol, observei o fogo na mata, corri até o posto policial e pedi que eles, os PMs, solicitassem auxílio do Corpo de Bombeiros, mas como eu não era o proprietário da área, eles não levaram em conta o meu apelo, pois naquela época somente os proprietários de terras é que podiam solicitar ajuda do Corpo de Bombeiros para apagar o incêndio, conta Kleber.
É bem verdade que a preocupação com o meio ambiente só ocorreu após a segunda metade do século passado (XX) e posteriormente ao fim do período da ditadura militar que ocorreu no país.
- Depois disso, organizei uma apresentação de congo em frente à prefeitura municipal, pedindo a desapropriação da região como patrimônio natural do município, mas entrou e saiu prefeitos e ninguém desapropriou a área. Ela só foi tombada graças a intervenção da Banda de Congo da Barra, através do Seu Honório e Seu Alcides, eles apoiaram a idéia e foram levados para as entrevistas defendendo o tombamento e fornecendo inúmeras informações sobre a área. Essa participação resultou ainda na grande divulgação da Banda de Congo, que até então tinha uma participação obscura no cenário estadual. Finalmente a área foi tombada em 1982, pelo Conselho Estadual de Cultura, Como resultado dessa grande articulação e envolvimento da comunidade local, alcançou-se grande repercussão e outras iniciativas do gênero se sucederam no Espírito Santo, inspirando o capítulo de Meio Ambiente, na Constituição de 1988, relatou.
Até então, em 1982 a única região da localidade que podia ser considerada de mata, com uma grande extensão contínua era Jacaranema. 

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